Uma carta ao filho que não tive

Você ainda não veio, e na verdade não sei se quero que você venha. Sabe, eu não estou preparada para lhe receber. Ao menos, não nesse momento.

Vivo em um mundo confuso, e tenho medo de criar você em meio a tanta maldade.

Talvez eu tenha perdido tempo demais comigo mesma, e agora está um pouco tarde para lhe conceber. Não que tenha faltado vontade, mas eu simplesmente ainda não encontrei um pai para você. Penso que não seria justo deixar-te sem um progenitor. Seria egoísmo da minha parte, reconheço.

Fiquei por muito tempo namorando comigo e, na verdade não sei se você um dia esteve esperando pela minha boa vontade, diante dos planos sublimes.

Quando eu era jovem, era um tanto quanto inconsequente, como toda pessoa de pouca idade, costuma ser. Talvez, por um descuido você tivesse chegado. Mas, acredito que você também não estava preparado para viver aqui, neste plano comigo. Você poderia ter um bom pai, mas talvez não viveríamos, os três juntos, para compartilhar a vida, o dia a dia, e as mais variadas refeições, dentro de uma casa que talvez poderíamos um dia chamar de lar. Nem eu, nem o pai que você teria, estávamos preparados para lhe receber…

A vida tem disso, querida criança. Se algum dia você desejar muito chegar para abrigar o meu ventre, prometo que pensarei mais seriamente sobre esse assunto, que, por vezes, me tira o sono. A maternidade talvez não seja um bicho de sete cabeças, como eu acredito realmente que seja. Talvez você também não esteja preparado para desembarcar.
Mas sei que você existe.

Onde estás, não sei, mas eu posso sentir as vibrações da sua presença.

Talvez essa espera prolongue-se até a próxima encarnação, para finalmente nos unirmos em corpo alma e coração. Os nossos corpos estarão separados, quando decidires que chegou a hora de nascer. Mas até lá, o seu corpo vibraria comigo, por meio de infinitos aprendizados, e por meio de uma responsável e irremediável, gestação. Meu filho(a), pequena criatura de Deus e que desde já, é amada por mim, com todo o meu coração.

Se um dia cansares de me esperar, entenderei a sua partida. Mas, se decidir por me aguardar, prometo não te decepcionar, por nem um segundo sequer. Estarei aqui, me reinventando para me preparar para a sua vinda, mesmo que essa espera seja muito longa. Seus cabelos macios, haverei de cuidadosamente pentear, sua pele bonita, hei de afagar, e o seu coração, também hei de condecorar.

Obrigada por ter me escolhido, um dia seremos mãe e filho, um dia seremos almas em aprendizado.

Um dia seremos certeza. Certeza que nunca chega sozinha. Querida alma envolta e rodeada de feixes de luz, viverei por ti, mesmo sozinha, nessa longa espera que um dia terá um fim. Um dia certamente estaremos unidos.

Enquanto isso, aguardemos por uma oportunidade, pois, o tempo não para e saberá esperar por nós. Devagar e sempre, alcançaremos a estrada de um caminho lindo, que um dia trilharemos juntos. Eu amo muito você, minha pequena criança. Desde sempre e para todo o sempre. Que Deus continue cuidando de mim, do seu pai, e de você. O reencontro será inevitável. Basta que sejas paciente…

O amor sempre estará presente. A vida esperará por nós.

Por enquanto, me despeço com um resignado adeus. Mas um dia, você me dirá olá… E nesse momento, estarei para sempre presa ao seu pequenino e imensurável coração. Temos muito o que aprender um com o outro. Deus está cuidando de nós…

Beijos em sua alma sublime. Até breve, meu querido e amado bebê!

Por: Thiana Furtado

Imagem de capa: Wayne Evans de Pexels





A autora é escritora, romancista, contista e colunista de algumas páginas... Atualmente, está trabalhando em livros desses gêneros descritos. A escrita para ela, é um dom, mas também é treino e conquista. Escreve desde os 16 anos e lançou o livro Minha vida com o transtorno esquizoafetivo, em outubro de 2018. Acredita que a vida não teria sentido, sem escrever. É um motor de arranque, um passatempo, mas também é trabalho, uma missão para tornar esse mundo um lugar menos denso de se viver. Acredita que a leitura pode transformar, em um sentido positivo, o dia, ou a vida de alguém. Ler livros é adentrar-se em uma aventura que nos transborda a alma...