Tanto ela quanto ele fizeram do orgulho e da distância um meio de superar o que sentem

Fazia uma semana que eles não se falavam e ela mantinha sua postura orgulhosa de si mesma por não ter o procurado, mas no fundo ela só queria que ele tomasse uma atitude, que fosse ele a ir atrás e a se interessar em saber como ela estava indo. Ela queria que fosse ele dessa vez e não ela, porém quanto mais o tempo passava mais distante ele parecia estar. A distância física poderia ser uma barreira, mas não era grande o suficiente para ele não poder escala-la e ir de encontro a ela. Havia tantas formas dele mostrar que se importava e ela gostaria de algo pequeno, simples e quase que insignificante aos olhos dos outros, mas que para ela significaria tanto. Mesmo sabendo que ela poderia tomar a atitude e ir saber o que estava acontecendo na vida dele, pois estava preocupada com tantas coisas que rodeavam a sua rotina, porém ela manteve o orgulho por perto e deixou o rapaz afastado.

Será se ele já a havia superado? Tinha perdido o interesse? O que teria acontecido? Ela não sabia dizer. Mas havia alguma coisa. Tinha que haver. Ele era tão atencioso para deixa-la assim sem nada dizer, sem querer saber como ela estava indo diante dessa fase de sua vida. Porém, a verdade é que ele não tinha a obrigação de se importar a esse ponto, pois eles eram só amigos. Ele não tinha que ligar para ela todos os dias e nem tinha que dar satisfação da própria vida por mais que ela quisesse tanto ouvi-lo falar com toda aquela sua mansidão. E enviar uma mensagem exigindo que ele dissesse algo passou por sua cabeça, mas estava fora de cogitação. Então ela respirou fundo e lembrou que há uma semana eles se despediram com um abraço tão aperto como se não quisessem se soltar. Que ele havia dito o quanto gostava dela e o quanto sentiria sua falta nesses meses que passariam afastados.

“Ele era tão diferente e diante disso os outros se tornaram tão banais, tão comuns e sem graça.”

Porém, cada palavra, cada frase, cada expressão “bonitinha” dita por ele agora pareceram tão fantasiosas, pois se ele sentia tudo isso por que havia sumido? Por que não quis saber como estava a readaptação dela naquele lugar que a ela amava, mas que ao mesmo tempo a assustava tanto? Ela gostaria de dizer que estava se sentindo sozinha. Que ninguém ali era como ele. As pessoas ali não sabiam conversar dos assuntos que ela se interessava. Na verdade, naquelas redondezas ela nem tinha amigos, era só mais uma menina que nas férias volta para casa e que encontra algo novo em cada esquina. Ela sentia falta de sentar na calçada com ele ficando horas falando de algo que realmente ela gostava e que era significativo, algo que pudesse mudar o mundo a sua volta e trazer um pouco mais de luz nessa escuridão. Ele era tão diferente e diante disso os outros se tornaram tão banais, tão comuns e sem graça.

Mas o que ela não sabia era que ele também sentia sua falta. Ele também estava segurando nas pontas dos dedos o seu orgulho e dizendo a si mesmo que era ele quem a procurava, que era ele quem ia atrás e que dessa vez ela teria que procura-lo para saber como ele estava. Por mais que ele tenha pegado o celular varias vezes e chegado a digitar algumas palavras, logo apagava e via que não valia a pena. Ele começou a pensar que ela gostaria de um tempo, pois ele sentia que a havia incomodado tanto que era melhor dar a ela um espaço para respirar sem ele por perto. Achou que era um chato que queria a atenção dela o tempo todo e que por isso o certo era manter certa distância, porque tinha medo dela cansar e enjoar da sua presença outrora constante.

Assim ele foi passando os dias tentando se convencer de que não havia nada de errado em deixa-la tão distante e não querer saber se ela havia chorado ao chegar em casa e não ver seu pai. Mas ele queria saber se ela estava se alimentando melhor, pois nos últimos meses ela havia emagrecido tanto. Porém, novamente a saudade sucumbiu no peito e se afogou no meio do orgulho misturado no medo de parecer um maluco que queria saber da vida dela, pois eles eram só amigos. Todavia, ele queria ser mais que amigo, ser mais que o irmão que ela nunca teve, porém sabia que criar expectativas nesse sentido iria machucar seu coração de uma forma que ela não poderia curar. Não poderia sonhar nunca mais com ela vestida em um longo vestido branco andando em sua direção. Não poderia planejar sua vida em torno de uma ilusão, fantasia e utopia amorosa. Por isso, resolveu que seria melhor se manter afastado porque assim poderia de vez esquecê-la e quando voltassem a se ver não sentiria mais nada.

Desse modo, ela continuou chorando todos os dias por se sentir sozinha trancafiada no alto de sua torre imaginaria. Enquanto ele se mantinha mais orgulhoso a cada dia de ter feito o certo em se manter longe, pois queria cuidar do seu coração ao deixa-lo livre dos sentimentos que nutria por aquela menina que parecia tão sua, mas que nunca poderia ser. Os dois sofriam calados, tímidos, vergonhosos das emoções que queriam apagar a qualquer custo. Ela cansou de falar dele para algumas pessoas e resolveu trata-lo como alguém que num passe de mágica deixou de existir, porém continuava presente em seus pensamentos, mas ela não conseguia entender porque não sentia mais o mesmo que antes, sentia que tinha superado e que era consciente do fato deles não darem certo, porém a saudade só aumentava e o desejoso de abraça-lo também.

“Seguiram sem ela saber o que se passava na cabeça dele e o moço sem saber do turbilhão de sentimentos sobre ele que a deixavam tonta.”

Já ele se convencia de que apenas um milagre poderia torna-los um casal como ele tanto queria, mas que talvez esse 1% de chance nunca se concretizaria e por isso seguiria sua vida como se ela estivesse em algum lugar de seu passado. Assim os dois seguiram, cada um com um buraco no peito e se negando a deixa-lo sem preenchido com aquilo que lutavam ao manter distante. Seguiram sem ela saber o que se passava na cabeça dele e o moço sem saber do turbilhão de sentimentos sobre ele que a deixavam tonta. Foram fingindo que não sentiam, que não queriam, que não mais sonhavam um com o outro. Foram como dois seres racionais que fizeram o certo ao se agarrar as suas verdades e princípios, do que se segurar em sentimentos que podem ferir com dor e sofrimento num futuro não muito distante. Foram pedindo a Deus que levasse embora tais desejos e que deixasse ali em seus corações algo pequeno que não doesse. Ela orou pedindo que ele fosse feliz com a garota que o valorizasse e ele orou pedindo que ela fosse cuidada da melhor forma possível pelo cara mais sortudo do mundo que Deus colocaria na vida dela.

Por: Tatielle Katluryn





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