
Ninguém gosta de se considerar uma pessoa má, mas a verdade é que todos nós, em algum momento, sentimos uma pontinha de satisfação ao ver alguém falhar. Pode ser o colega arrogante que foi chamado atenção no trabalho ou aquele influenciador que vive se gabando e, de repente, comete um erro público.
Por mais desconfortável que pareça admitir, sentir prazer diante do fracasso alheio é um fenômeno humano — e a psicologia tem uma explicação para isso.
Na Alemanha, há uma palavra para descrever esse sentimento: schadenfreude, que significa literalmente “alegria pela desgraça alheia”. E, segundo os especialistas, esse comportamento não faz de você uma pessoa ruim — apenas humana.
Portanto, neste artigo, confira cinco motivos que as pessoas gostam de ver as outras falharem e o que isso revela sobre o funcionamento da mente.
1. Ver alguém falhar reforça a autoestima
De acordo com um estudo, as pessoas com baixa autoestima sentem mais prazer em ver os outros falharem, especialmente quando se comparam a alguém mais bem-sucedido.
Na pesquisa, 70 estudantes leram entrevistas sobre um colega talentoso que estava prestes a conseguir um emprego incrível. Em seguida, leram uma nova entrevista mostrando que o desempenho do colega havia caído.
O resultado? Aqueles com autoestima mais baixa sentiram mais satisfação com o fracasso do outro.
Segundo os psicólogos, isso acontece porque ver o outro cair temporariamente reduz a sensação de inferioridade. Por isso, se alguém que admiramos (ou invejamos) falha, isso reforça nossa autoconfiança, mesmo que por pouco tempo.
2. É uma resposta biológica natural
Por mais que a empatia seja uma virtude valorizada socialmente, ela não é a resposta automática do cérebro humano. Nossa mente é programada para buscar autoafirmação e sobrevivência social.
Quando alguém considerado “melhor” que nós erra, o cérebro reage como se fosse uma vitória pessoal. É um mecanismo biológico de autopreservação, semelhante à sensação de alívio ou prazer ao se livrar de uma ameaça.
Em outras palavras, o schadenfreude é um instinto emocional ligado à competição. Assim como sentimos orgulho por conquistar algo, também sentimos prazer inconsciente quando alguém que nos ameaça socialmente perde.
3. Dá a sensação de justiça sendo feita
Outro motivo comum é o sentimento de que a pessoa mereceu o que aconteceu. Quem nunca pensou “bem feito” ao ver alguém arrogante, injusto ou privilegiado finalmente enfrentar uma consequência?
De acordo com a psicologia, esse sentimento se chama justiça restaurativa emocional, sendo o prazer que sentimos quando o “equilíbrio” parece ser restaurado. É como se o universo finalmente tivesse cobrado a conta de quem sempre teve tudo fácil.
Esse tipo de pensamento é mais comum entre pessoas que se sentem injustiçadas ou desvalorizadas. Quando a vida parece desigual, ver o outro “perder” traz uma sensação simbólica de igualdade.
4. É um mecanismo de defesa emocional
De acordo com estudos em psicologia social, o schadenfreude também pode ser uma forma de desligamento emocional. Quando você se distancia da dor ou da falha do outro, o cérebro cria uma barreira protetora para não sentir sobrecarga empática.
Essa forma de “desumanização leve” ajuda o indivíduo a lidar com o excesso de informações negativas e injustiças do mundo. Em outras palavras, o prazer que sentimos diante do erro alheio pode ser uma estratégia inconsciente para reduzir o sofrimento emocional.
5. Revela desejos e frustrações pessoais
Por fim, sentir satisfação ao ver alguém falhar pode indicar inveja reprimida ou sonhos não realizados. Quando você vê alguém alcançando algo que sempre quis, o sucesso do outro funciona como um espelho das suas próprias frustrações.
Assim, quando essa pessoa falha, o cérebro interpreta como uma “prova” de que talvez aquele sonho não seja tão inatingível — ou que você não está tão distante quanto parecia.
Reconhecer esse sentimento é importante. Ele pode servir como um sinal de autoconhecimento, ajudando você a identificar desejos que têm sido ignorados.
A verdade sobre o schadenfreude
Gostar de ver alguém falhar não faz de você uma pessoa cruel — faz de você humano.
A psicologia mostra que esse tipo de prazer momentâneo está ligado a autoestima, competição e emoção, não à maldade.
O importante é reconhecer quando esse sentimento aparece e tentar transformá-lo em algo produtivo. Em vez de focar no fracasso do outro, pergunte-se:
“Por que isso me afeta tanto?” ou “O que isso revela sobre o que eu desejo para mim?”
Sentir-se bem com o erro alheio é natural; permanecer preso a isso é o que pode ser prejudicial.
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