
Nos últimos meses, o uso do Ozempic — medicamento originalmente desenvolvido para tratar diabetes tipo 2 — tem se tornado um assunto polêmico após a sua utilização como método de emagrecimento,
Agora, uma nova tendência conhecida como microdosagem vem chamando atenção de médicos, usuários e fabricantes. Embora alguns especialistas apontem benefícios em doses menores, relatos de quem testou essa prática sugerem que os riscos podem ser sérios.
O que é microdosagem de Ozempic?
A microdosagem consiste em utilizar doses menores e mais frequentes do medicamento, com o objetivo de reduzir efeitos colaterais e, supostamente, otimizar resultados.
Apesar de o Ozempic não ser aprovado pela FDA como um tratamento para emagrecimento, muitos usuários relatam redução do apetite, perda de peso e melhora na saciedade.
De acordo com o cirurgião plástico e apresentador de TV Dr. Terry Dubrow, de Newport Beach, Califórnia, pequenas doses de Ozempic poderiam até trazer benefícios cardiovasculares e cerebrais.
“Mesmo quem não está acima do peso pode se beneficiar, pois essas drogas ajudam a prevenir novos ataques cardíacos”, afirmou.
Especialista defende uso em pequenas doses
Dr. Dubrow explicou que microdosar o Ozempic — ou seja, aplicar cerca de metade da dose padrão — poderia ser comparado ao uso de um multivitamínico diário no futuro.
Portanto, ele acredita que se houver intervalos maiores entre as aplicações, como a cada 10 dias em vez de sete, poderiam ajudar a regular o açúcar no sangue sem causar os desconfortos mais comuns do tratamento.
Segundo ele, as doses reduzidas teriam menor risco de efeitos adversos como náusea, constipação e refluxo.
“Acho que esses efeitos são menos intensos em quem faz microdosagem”, disse o médico.
No entanto, não há consenso científico sobre o tema. Até o momento, nenhum estudo clínico comprovou a segurança ou eficácia da prática.
Fabricantes alertam: “Não recomendamos microdosagem”
A fabricante do Ozempic, Novo Nordisk, se posicionou contra a prática.
“A Novo Nordisk recomenda que todos os nossos produtos sejam usados conforme as doses aprovadas nas bulas oficiais. Não apoiamos práticas como microdosagem, que são inconsistentes com nossos testes clínicos e diretrizes licenciadas.”
A Eli Lilly, fabricante dos medicamentos Mounjaro e Zepbound, também alertou que não há dados sobre os riscos ou benefícios da microdosagem. Segundo a empresa, o uso fora das instruções pode oferecer riscos à segurança do paciente.
O relato de quem testou: “Perdi a vontade de viver”
Apesar dos alertas, algumas pessoas decidiram testar por conta própria. A jornalista Charlotte Cripps, do The Independent, contou que começou a dividir sua dose de 1 mg pela metade e aplicá-la a cada duas semanas.
O resultado foi uma perda de 20% do peso corporal em um ano e melhora no colesterol, mas o custo emocional foi alto.
“Eu perdi a vontade de viver. Fiquei miserável, sem energia e sem vida social”, relatou.
Cripps afirmou que, embora o método tenha reduzido o apetite, também gerou deficiências nutricionais e perda de massa muscular, deixando-a exausta e emocionalmente abalada.
Falta de estudos e riscos potenciais
De acordo com o portal Medical News Today, não existem evidências científicas suficientes para garantir que a microdosagem de medicamentos à base de semaglutida (como Ozempic e Wegovy) seja segura ou eficaz.
Especialistas alertam que o uso sem orientação médica pode:
- Causar desequilíbrio nutricional;
- Aumentar o risco de perda de massa magra;
- Provocar efeitos psicológicos negativos, como apatia e isolamento;
- Mascarar sintomas de problemas metabólicos.
O que os médicos recomendam
Antes de qualquer tentativa de ajuste de dose, os profissionais de saúde reforçam a importância de orientação médica individualizada. Além disso, quem faz uso de Ozempic ou outros injetáveis deve:
- Aumentar o consumo de proteínas;
- Praticar exercícios de resistência para evitar perda muscular;
- Fazer acompanhamento nutricional e psicológico.
A microdosagem de Ozempic pode parecer uma solução simples, mas os relatos mostram que os riscos ainda superam os possíveis benefícios. Até que existam evidências concretas, a recomendação dos especialistas é clara: não altere as doses sem supervisão médica.
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