
Em um dos casos mais alarmantes de abuso espiritual dos últimos anos, uma mulher de 43 anos morreu em circunstâncias que expõem os perigos da manipulação religiosa.
Flávia Cunha Costa, uma profissional respeitada, graduada em secretariado executivo e fluente em três idiomas, foi mantida em cárcere privado por cerca de dez anos por um casal de pastores em Belém (PA).
A Polícia Civil do Pará prendeu preventivamente os líderes religiosos Marleci Ferreira de Araújo e Ronnyson dos Santos Alcântara, fundadores do autodenominado “Ministério Torre do Poder de Deus”.
Segundo a investigação, eles teriam usado falsas promessas de “cura espiritual” para subjugar Flávia emocionalmente, afastá-la de sua família e submetê-la a uma rotina de abusos físicos e psicológicos.
A vítima vivia em condições insalubres, confinada em um quarto sem banheiro e sem acesso à água potável. Embora continuasse trabalhando remotamente, seu salário era integralmente controlado pelo casal. Familiares relataram que tentaram resgatá-la diversas vezes, mas sempre foram impedidos de vê-la.
Flávia foi levada ao Pronto Socorro do Guamá já em estado crítico de desnutrição severa. O casal se apresentou como vizinho da vítima e tentou fugir do local ao perceber que o caso seria denunciado.
A investigação apontou sinais claros de violência psicológica, caracterizada pela chamada ‘alienação emocional’ – processo em que a vítima é induzida a cortar vínculos com pessoas próximas, tornando-se cada vez mais dependente de seus agressores.
De acordo com a delegada Bruna Paolucci, a primeira abordagem policial ocorreu semanas antes, após denúncias anônimas. Na ocasião, Flávia negou estar em situação de risco e disse estar sendo vítima de intolerância religiosa por parte da família — uma defesa comum em casos de manipulação emocional profunda.
A morte de Flávia reacende o debate sobre o funcionamento de seitas religiosas no Brasil e a necessidade urgente de políticas públicas que coíbam práticas abusivas sob o disfarce da fé. O caso permanece sob investigação, e o casal está detido preventivamente.
Imagem de Capa: Arquivo Pessoal/Polícia Civil do Pará