
Você já reparou que, muitas vezes, quando alguém perto de você boceja, você também sente uma vontade quase incontrolável de bocejar?
Esse fenômeno aparentemente simples — conhecido como bocejo contagioso — não é apenas um reflexo físico, mas pode dizer muito sobre conexões sociais e empatia entre indivíduos.
No entanto, nem todos respondem da mesma maneira a esse estímulo, especialmente pessoas com determinados traços de personalidade.
Estudos científicos têm investigado a relação entre o bocejo contagioso e a empatia — a capacidade de se conectar emocionalmente com outras pessoas — e alguns sugerem que diferenças nesse comportamento podem estar relacionadas a traços psicopáticos, que envolvem falta de empatia e distanciamento social.
O que é bocejo contagioso e por que ele importa
O bocejo é um reflexo natural que inclui uma inspiração profunda, alongamento dos músculos faciais e uma expiração. É algo que observamos em muitos vertebrados, de humanos a aves e répteis.
O bocejo se torna particularmente curioso quando ocorre em resposta a outro bocejo, mesmo sem cansaço físico real.
Este tipo de resposta social — o bocejo contagioso — tem sido associado à função de conectar grupos sociais, sincronizar estados de alerta e até reforçar comportamentos cooperativos.
Algumas pesquisas mostram que o bocejo se espalha mais facilmente entre familiares e amigos do que entre estranhos, sugerindo que existe um componente emocional envolvido.
Empatia e bocejo contagioso: o que a pesquisa mostra
Vários estudos exploraram como a susceptibilidade ao bocejo contagioso se correlaciona com empatia.
Em experimentos laboratoriais, participantes que apresentaram maior tendência a bocejar em resposta a outros bocejos também mostraram pontuações mais altas em medidas de empatia, o que indica que esse reflexo pode refletir capacidades sociais mais profundas do que supomos à primeira vista.
Isso faz sentido: para que o bocejo contagie, é preciso haver um certo grau de sintonização neurológica com o estado de outra pessoa, um processo ligado a sistemas cerebrais que também participam da empatia emocional.
O estudo científico publicado na revista Personality and Individual Differences analisou como traços psicopáticos se relacionam com o bocejo contagioso.
Ele revelou que indivíduos com pontuações mais altas em medidas de traços psicopáticos (como “coldheartedness” no Inventário de Personalidade Psicopática) tendem a bocejar menos em resposta a outros bocejos. Isso indica uma conexão entre características como falta de empatia e menor suscetibilidade ao bocejo contagioso.
Apesar disso, os pesquisadores enfatizam que não se pode usar a ausência de bocejo contagioso como um “teste” de psicopatia — muitos fatores influenciam essa resposta, como familiaridade com a pessoa que boceja, atenção, estado de alerta e até simplesmente o quanto a pessoa está cansada.
Então, psicopatas não bocejam?
A resposta é mais complexa do que uma estatística absoluta. O que a ciência sugere é que pessoas com traços psicopáticos têm menos probabilidade de responder ao bocejo de outras pessoas, possivelmente por causa de diferenças em empatia e sincronização social — mas isso não significa que elas nunca bocejam.
Estudar respostas simples como o bocejo em contextos sociais ajuda cientistas a entender como nossa mente se conecta ao comportamento de outros, e como traços psicológicos podem influenciar esse processo.
Isso amplia nosso conhecimento sobre empatia humana, mecanismos sociais e a natureza de condições como a psicopatia — temas que vão muito além de reflexos involuntários.
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