“Empresas já leem nossas mentes e vão saber ainda mais”, afirma pesquisadora futurista

Uma professora de direito da Universidade Duke, Estados Unidos, especialista em ética tecnológica e futurista, pesquisa as consequências das novas tecnologias e afirma que já sofremos com a “ameaça à privacidade de pensamento” e que isso deve ser realmente levado a sério.

Recentemente, a iraniana-americana Nita Farahany publicou um livro onde aborda o tema, “The Battle for your Brain: Defending the Right to Think Freely in the Age of Neurotechnology”, do inglês “A Batalha pelo seu Cérebro: Defendendo o Direito de Pensar Livremente na Era da Neurotecnologia”.

Mas nos dias de hoje é mesmo possível a tecnologia ler o nosso cérebro? De fato ainda não existe, mas na verdade, Farahany explica que as defesas da nossa privacidade de pensamento começaram a ser derrubadas sem a necessidade de “ler” diretamente o cérebro.

Atualmente, as mais diversas companhias de tecnologia recebem a todo momento informações importantes sobre nós que é analisada por algoritmos: quem são nossos amigos, qual e que tipo de conteúdo gera emoção, as preferências políticas, os produtos que clicamos, por onde andamos ao longo dos dias e até mesmo algumas das transações financeiras.

“Tudo isso está sendo usado por empresas para criar perfis muito precisos sobre quem somos e assim entender nossas preferências e nossos desejos”, disse Farahany em entrevista à BBC News Brasil. “É importante as pessoas entenderem que elas já estão em um mundo onde mentes são lidas.”

No entanto, com o avanço da neurotecnologia, o uso de equipamentos em contato direto com a cabeça, leva tudo isso a um novo patamar. De acordo com Farahany, os sensores cerebrais são parecidos com sensores de frequência cardíaca encontrados nos smartwatches ou em anéis que medem a temperatura do corpo quando captam a atividade elétrica no cérebro.

“E toda vez que você pensa, ou toda vez que sente algo, os neurônios disparam em seu cérebro, emitindo pequenas descargas elétricas. Padrões característicos podem ser usados para tirar conclusões”, afirma.

“Por exemplo, se você vê uma propaganda e sente alegria ou estresse ou raiva, tédio, envolvimento… todas essas reações podem ser captadas por meio da atividade elétrica em seu cérebro e decodificadas com a inteligência artificial mais avançada.” Desta forma, é possível transmitir através desses sinais o que sentimos, observamos ou pensamos.

Farahany afirma que as pessoas precisam compreender e aceitar que o cérebro “não é inteiramente delas”.”Imagine que você se proponha no começo da semana a não passar mais de uma hora por dia nas redes sociais. Aí você descobre no final que você gastou quatro horas por dia. O que aconteceu?”, pondera a professora de Direito e Filosofia na Duke.

“Se existem algoritmos projetados para te capturar quando você quer se desconectar, se existem notificações quando você fica muito tempo fora do celular, se você quer assistir a só um episódio da série e o próximo começa automaticamente, você usou seu livre arbítrio? São ferramentas e técnicas projetadas para prejudicar aquilo com que você se comprometeu.”

Entretanti, Farahany, acredita que o monitoramento cerebral poderia melhorar a humanidade e salvar vidas. “O que eu proponho é um equilíbrio. É tanto uma forma de as pessoas enxergarem os aspectos positivos da tecnologia, mas também de estarem protegidas contra os riscos mais significativos”, diz.

“Para chegar lá, é necessário mudar a forma como pensamos a nossa relação com a tecnologia. A tecnologia raramente é o problema. Quase sempre é o mau uso. Não se trata de encampar posições absolutas do tipo ‘tudo isso é ruim’ ou ‘tudo isso é ótimo’, mas tentar definir quais são as funcionalidades dessa tecnologia para o bem comum e quais são os riscos de uso indevido.”


Imagem de Capa: Twitter





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