Dia de Todos os Santos e Santidade hoje: um chamado para todos

No dia 1° de novembro a igreja celebra o Dia de todos os Santos, sendo que no Brasil celebra-se esta solenidade no domingo após o dia 1° de novembro, exceto se este mesmo dia cai no sábado ou no domingo, então se celebra no mesmo dia.  A origem desta solenidade se deu em 13 de maio de 610, quando o Papa Bonifácio IV dedicou o Panteão (o templo romano em honra a todos os deuses) à Maria e a todos os mártires, transformando em Basílica após trazer os restos mortais dos mártires encontrados nas catacumbas romanas.  A data foi mudada para novembro em 838 pelo Papa Gregório IV.

No início do cristianismo os cristãos tinham o costume de honrar a memória dos mártires de seu tempo, inclusive pedindo a intercessão deles.

A partir de então começou a se honrar a memória dos santos, que em sua grande maioria eram mártires, e eram chamados de santos pela igreja por meio de aclamação popular. Somente depois de um tempo a igreja passou a canonizar santos pelos meios formais que conhecemos hoje.

A solenidade de todos os santos tem uma dupla função na história da igreja: a de honrar todos os santos conhecidos e anónimos, e também de celebrar a vitória da Igreja sobre o paganismo romano. Vale lembrar que muitos santos mártires morreram porque se negaram a adorar a estátua do imperador ou oferecer sacrifícios aos deuses romanos, porque reconheciam a fé em um só Deus em Três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Muitos se negaram a renunciar a fé em Jesus Cristo, e exatamente por este motivo eram assassinados brutalmente. Esta realidade não está muito longe de nós. Não foram os poucos mártires de nossos tempos que foram mortos em nome de ideologias muitas vezes contrárias à dignidade do ser humano. E ainda hoje em alguns lugares há a perseguição daqueles cujo único crime é amar Jesus Cristo e segui-lo.

Celebrar este dia implica entender o chamado à santidade que todos nós recebemos desde o batismo, e ao mesmo tempo, entender a santidade de Deus. Deus, no antigo testamento era chamado de Kadosh, que significa separado. Deus é separado de sua criação, não se confunde com a realidade criada, de tal modo que a compreensão de Deus no judaísmo supera o culto aos deuses de outras civilizações, uma vez que quase todos eles estavam associados às forças e elementos da natureza. Mas ao mesmo tempo que Deus é Santo em si mesmo, Ele faz o convite a seu povo para que também seja um povo santo, separado dos demais povos, com costumes distintos, como sinal no mundo de seu total pertencimento a Ele. Assim o povo de Israel passou a entender a santidade em termos de pureza e impureza para celebrar o culto. O culto a Deus tinha continuidade na vida, por isto os judeus também tinham toda uma norma ética que ditava regras de como agir no mundo, sendo expressão desta santidade de Deus e do seu pertencimento a ele como povo.

No cristianismo, a palavra usada para manifestar a santidade é Agiós, que trás também esta ideia de separado, puro, consagrado.

Mas a santidade compreendida no cristianismo é muito distinta no judaísmo, de tal modo que, se  no judaísmo há uma ênfase na questão da pureza ritual, no cristianismo a ênfase dada é o amor ao próximo como sinal da santidade de Deus, com um caráter mais inclusivo, se espelhando em Jesus que não olhava as pessoas em categorias de puro e impuro. Ser separado significa neste caso apartado de toda e qualquer situação que possa levar o ser humano ao pecado. Mas não existe santidade sem a realidade do pecado. Aliás, grandes santos se auto-declaravam grandes pecadores, e em nenhum momento nenhum deles ousaram se auto-proclamar santos em vida.

Santo não é aquele que é isento de pecado, mas aquele que é capaz de se abandonar inteiramente à misericórdia de Deus que realmente nos santifica. Logo, a santidade não é produto de nossas mãos, mas resultado da graça de Deus em nós. Santidade não é para pessoas especiais, com dons místicos, ou somente para religiosos, padre, freiras. A santidade é para todos, pois assim realizamos no mundo este “ser imagem e semelhança de Deus”, graça que Ele nos deu no exato momento em que nos criou.

Uma palavra sinônimo para santo certamente seria misericórdia, pois só é santo quem é capaz de se compadecer da miséria alheia, uma vez que conhece de perto sua própria miséria. Se para as pessoas do tempo de Jesus ser santo significava estar “apartado dos pecadores”, não dialogando com as “pessoas de má vida”, a Santidade em Cristo se pauta no amor ao próximo, inclusive aos inimigos, aqueles que ninguém ama.

Somente Deus é santo em si mesmo, e quando a igreja declara uma pessoa santa, significa que algo da vida daquela pessoa nos fala de Deus e nos leva a Ele.

A pessoa santa nos mostra Jesus, e isso nos leva a entender que a santidade não se encerra na pessoa, mas deve nos levar a contemplar algo de Deus na vida dela. Santo é aquele que anuncia Jesus com a vida, muito mais do que com as palavras. Ser santo é se deixar guiar pelo Espirito Santo, que é o Amor do Pai e do Filho derramado na vida de todo batizado, é ser amor no mundo.

Não é à toa que na iconografia da igreja os santos são apresentados com aureolas em suas imagens, significando que foram pessoas que se deixaram conduzir pela graça de Deus e a se transformar por ela, na busca diária da conversão, de vencer o egoísmo, o pecado, a maldade, a injustiça. Quando buscavam a santidade, estavam também buscando transformar a realidade que os cercavam, e assim se nota que a santidade não é fator isolado, mas é realidade que transforma, pois traz Deus para dentro da vida e da história dos homens.

Por: Frei William Silva – Filosofia de Vida

Imagem de capa: Pixabay no Pexels





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