Dentista que atende crianças com deficiência recebeu multa por choro de pacientes: ‘Pediram para eliminar o barulho’

Todo mundo já foi criança e sinto algum medo de ir ao dentista. Quem lembra disso ou tem filhos já passou por isso. Agora imagina o terror que pode ser para uma criança com algum tipo de deficiência.

O odontopediatra Edson Higa recebeu uma multa pelo condomínio comercial onde trabalha, em Curitiba, devido às reclamações dos choros dos pacientes que ele atende – a maioria das crianças tem deficiência.

A multa contra o dentista foi expedida em 7 de fevereiro, porém o caso ganhou grande repercussão após o dentista publicar imagens da penalidade que recebeu.

“É uma tristeza muito grande porque, na realidade, fere meu direito de trabalhar. É um absurdo. Eu estou sem entender até agora como que pessoas fazem isso. O que eu sinto é que elas são intolerantes e eu fico extremamente triste de não poder executar meu direito de atender crianças com necessidades especiais”, disse Edson, de acordo com publicação no G1 Paraná.

Edson foi multado em R$ 332,66, valor da taxa do condomínio. Entretanto, o documento refere que, em caso de reincidência, o valor da multa pode ser multiplicado por 10.

Antes de ser multado, o dentista recebeu uma notificação em 9 de dezembro de 2021, alegando que o barulho e o choro das crianças extrapolavam “o limite do seu imóvel”.

Na notificação, assinada pela síndica, é solicitado que haja providências para “diminuição ou eliminação do barulho” ou que ele fizesse isolação acústica do consultório, o que ele afirma ter acatado.

“Eu acatei os pedidos que me fizeram. Contratei uma empresa pra fazer a acústica. Mas são crianças, um choro ou outro vai acabar sendo ouvido. Quando eu fiz o isolamento do ambiente, mandei documentos comprovando, inclusive assinados por um engenheiro. Mesmo assim fui multado”, conta Edson.

No dia em que foi multado, o odontopediatra estava atendendo uma criança com paralisia cerebral que chorou durante o atendimento e que, ao ouvir o barulho, um vizinho bateu diversas vezes na janela do consultório. Nesse momento, ele estava com um bisturi na mão.

“Podia ter acontecido algo grave […] Quando isso aconteceu, eu liguei para a gerência do prédio e reclamei. Depois, recebi a multa”.

Com a repercussão do caso, pacientes do dentista e Organizações Não-Governamentais (ONGs) realizaram um protesto pacífico na frente do condomínio onde Edson Higa tem consultório – que está fechado.

“É bom frisar que essa sala é minha. Eu nunca vi isso em 30 anos de carreira. É de uma falta de respeito, falta sensibilidade. Não só comigo, mas com os meus pacientes”, disse.

Desde que recebeu a primeira notificação, o dentista procurou o Conselho Regional de Odontologia do Paraná (CRO-PR) para pedir auxílio. E, por orientação jurídica, não pagou a multa.

Imagem de Capa: Instagram





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