
A adolescência, fase marcada por transformações físicas, emocionais e sociais, sempre foi considerada como o período entre os 10 e 19 anos.
No entanto, estudos recentes defendem que ela pode se estender até os 24 anos de idade, mudando a forma como entendemos a transição entre juventude e vida adulta.
Pesquisadores australianos publicaram na revista Lancet Child & Adolescent Health que o desenvolvimento humano — tanto biológico quanto social — justifica ampliar esse marco. A ideia divide opiniões entre especialistas, que discutem se essa mudança fortalece ou infantiliza os jovens.
Por que a adolescência estaria durando mais?
Os cientistas apontam diferentes razões para considerar que a adolescência vai até os 24 anos:
Mudanças biológicas:
- A puberdade começa mais cedo, em média aos 10 anos, e o corpo continua se desenvolvendo até depois dos 20.
- O cérebro só atinge plena maturidade por volta dos 24 anos.
- Até os dentes do siso costumam nascer depois dos 20, sinalizando que o corpo ainda passa por transformações.
Mudanças sociais e culturais:
- Jovens estão estudando por mais tempo antes de entrar no mercado de trabalho.
- O casamento e a maternidade/paternidade foram adiados em várias culturas — no Reino Unido, por exemplo, a idade média para casar passou para 30 anos ou mais.
- Muitos jovens continuam morando com os pais, fenômeno conhecido no Brasil como “geração canguru”, que se tornou cada vez mais comum.
O que muda se a adolescência for ampliada?
Caso se houver uma mudança definitiva sobre a idade da adolescência, políticas públicas, direitos e serviços voltados para essa faixa etária também terão de ser adaptados.
No Reino Unido, por exemplo, já existem programas que oferecem suporte até os 24 anos para jovens em situação de vulnerabilidade. Dessa maneira, reconhecendo que nem todos conseguem independência plena antes disso.
De acordo com uma das autoras do estudo, Susan Sawyer, essa redefinição pode ajudar a alinhar leis e práticas sociais com a realidade atual. Nos dias de hoje, os jovens demoram mais para assumir papéis adultos e precisam de apoio nessa transição.
Críticas: infantilização ou adaptação à realidade?
Nem todos os especialistas concordam. A socióloga Jan Macvarish alerta que estender a adolescência pode “infantilizar” os jovens, tirando deles a responsabilidade de amadurecer e reforçando a ideia de que dependência seria algo natural até os 24 anos.
Para ela, estudar mais tempo, atrasar o casamento ou morar com os pais não significa necessariamente falta de maturidade. Pelo contrário, pode ser parte de um caminho de independência mais consciente.
Já outros estudiosos defendem que reconhecer a adolescência prolongada não é sobre infantilizar, mas sim sobre dar suporte adequado a uma geração que enfrenta mudanças biológicas, sociais e econômicas diferentes das anteriores.
Imagem de Capa: Canva