
Nas últimas semanas, o estado de São Paulo registrou uma onda de casos de intoxicação por metanol em bebidas adulteradas — um cenário que já deixou pelo menos duas mortes confirmadas e vários pacientes internados.
Segundo uma reportagem do Fantástico, um jovem e uma mulher são algumas das vítimas em tratamento, o que reforça a gravidade e a urgência das investigações em curso.
Panorama dos casos e notificações
Segundo as autoridades de saúde, nove casos suspeitos de intoxicação por metanol estão sendo investigados no estado de São Paulo. Destes, há confirmação de duas mortes: uma na capital paulista e outra em São Bernardo do Campo.
Uma mulher que consumiu bebida possivelmente adulterada foi internada e no momento está completamente cega — o caso representa parte desse conjunto de ocorrências que chamam atenção das vigilâncias sanitárias.
Dentre os casos em análise, alguns já receberam alta hospitalar; outros permanecem em observação médica e aguardam a liberação de resultados laboratoriais que confirmem a presença de metanol.
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O que é o metanol e por que ele é tão perigoso?
O metanol, também conhecido como álcool metílico, não é destinado ao consumo humano e é altamente tóxico. Ele é comumente empregado como solvente industrial, em limpadores automotivos, anticongelantes e produção de combustíveis.
Quando ingerido, o metanol é metabolizado no fígado e convertido em formaldeído e ácido fórmico — compostos extremamente tóxicos. Esses subprodutos danificam o sistema nervoso central, os olhos e outros órgãos.
Os sintomas geralmente começam algumas horas depois e incluem dor de cabeça intensa, náuseas, vômitos, dor abdominal, confusão mental, visão turva ou até cegueira. Em casos graves, pode ocorrer coma e morte.
De acordo com dados da toxicologia, doses relativamente pequenas já são capazes de causar danos irreversíveis.
Relação entre metanol e falsificação de bebidas
As investigações apontam que o metanol usado nesses casos pode ter origem na adulteração de bebidas alcoólicas — especialmente gins, vodcas e outros destilados vendidos em bares e estabelecimentos informais.
Uma hipótese levantada por associações de combate à falsificação é a possibilidade de que parte do metanol importado ilegalmente — utilizado no mercado clandestino de combustíveis — tenha sido redirecionado para adulterar bebidas.
A desconfiança decorre de operações recentes que identificaram importações fraudulentas de metanol com destino a postos de combustíveis controlados por organizações criminosas.
Diante da situação, o Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e do Conselho Nacional de Combate à Pirataria (CNCP), emitiu nota técnica com recomendações urgentes para bares, restaurantes, distribuidoras e demais estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas.
Algumas das orientações incluem:
• Adquirir bebidas apenas de fornecedores formais com CNPJ ativo e emitir nota fiscal;
• Conferir lacres, rótulos, selos fiscais e verificar indícios de adulteração, como erros de impressão ou preços muito baixos;
• Suspender a venda de lotes suspeitos, preservá-los para perícia e comunicar autoridades competentes (Vigilância Sanitária, Polícia, PROCON).
A Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) manifestou preocupação e reforçou que atuará com autoridades e fabricantes legais para prevenir o consumo de produtos adulterados.
Já a Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia advertiu para o risco de neuropatia óptica, condição que pode provocar perda irreversível da visão. O diagnóstico depende de exames clínicos, laboratoriais e de imagem.
Cuidados para consumidores
Para evitar intoxicações, especialistas recomendam:
1. Consumir bebidas alcoólicas somente em estabelecimentos confiáveis e legalizados;
2. Desconfiar de produtos com preços muito abaixo do mercado ou com embalagens visivelmente adulteradas;
3. Verificar o lacre da garrafa, a qualidade da impressão do rótulo e a presença de selo fiscal;
4. Ao sentir sintomas como visão turva, dor de cabeça intensa, náuseas ou confusão mental após ingerir bebida alcoólica, procurar atendimento médico imediato e informar o histórico de consumo.
Importância da ação rápida e vigilância contínua
Este surto de intoxicação por metanol revela como uma substância industrial facilmente torna-se letal quando introduzida no mercado de bebidas. A combinação de vigilância sanitária, fiscalização rigorosa e cooperação entre órgãos públicos e privados é essencial para identificar, interromper e punir redes de adulteração.
Além disso, a população precisa ser alertada sobre os perigos invisíveis. Mesmo sintomas aparentemente brandos — como dor de cabeça ou náuseas — podem indicar intoxicação precoce e requerem atenção especial.
Imagem de Capa: Reprodução/Canva