Durante décadas, o senso comum e a própria ciência repetiram a ideia de que estar casado protege a mente e o coração. Companheirismo, rotina compartilhada, apoio emocional — tudo isso seria um “escudo” contra a solidão e o declínio cognitivo.
Mas um novo estudo de longo prazo, publicado em Alzheimer’s & Dementia, lançou uma luz diferente sobre essa crença: entre mais de 24 mil adultos acompanhados por até 18 anos, os divorciados e solteiros apresentaram menor risco de desenvolver demência do que os casados.
A pesquisa, conduzida com participantes de cerca de 72 anos de idade, analisou cuidadosamente fatores como genética, escolaridade, hábitos de vida e histórico clínico.
Mesmo após todos esses ajustes, a associação persistiu: pessoas casadas mostraram maior incidência de demência do que aquelas que haviam se divorciado ou nunca se casaram. É um resultado que surpreendeu até os próprios autores — e que convida a repensar a forma como enxergamos o casamento e o envelhecimento mental.
Especialistas apontam que a qualidade da relação pode ser mais determinante do que o simples estado civil. Um casamento marcado por estresse crônico, conflitos, sobrecarga emocional ou falta de estímulo cognitivo e apoio pode, ao longo dos anos, criar um ambiente mentalmente desgastante.
O excesso de cortisol — hormônio do estresse — está diretamente ligado à inflamação cerebral, à perda de memória e à aceleração do envelhecimento neural.
Por outro lado, pessoas divorciadas ou solteiras tendem a desenvolver maior autonomia, cultivam redes sociais mais amplas e assumem atividades diversas que estimulam o cérebro.
A liberdade para criar novas conexões e enfrentar desafios pode funcionar como um “exercício cognitivo natural”. Isso ajuda a explicar por que, em alguns estudos recentes, o isolamento não está mais diretamente ligado ao estado civil, mas sim à qualidade das interações que a pessoa mantém ao longo da vida.
É importante ressaltar que o estudo não prova que o casamento “cause” demência — ele apenas mostra uma correlação que merece investigação. Em muitos casos, o casamento continua sendo uma fonte poderosa de suporte emocional, propósito e estabilidade, desde que a relação seja saudável e enriquecedora.
Talvez, no fim das contas, o segredo não esteja em ser casado ou solteiro, mas em como vivemos dentro das nossas relações. O amor consciente, o diálogo, o respeito mútuo e a curiosidade pelo outro são fatores que alimentam não só o vínculo afetivo, mas também a saúde do cérebro.
Afinal, a mente floresce onde há conexão genuína — e adoece onde há silêncio, rotina e descuido emocional.
Assim, mais do que repensar o casamento, este estudo nos leva a uma reflexão maior: estamos crescendo juntos ou apenas existindo lado a lado? A resposta, talvez, esteja na forma como escolhemos amar — e cuidar, todos os dias, do que mantém viva tanto a alma quanto a memória.
Imagem de Capa: Canva
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