As cartas de amor que nunca enviarei

Encorajada pelos amigos, resolvi sair de minha caverna para conhecer alguns homens.  Nestas saídas, notei que havia entre eles, uma semelhança no modo de conduzir a conversa, que sempre iniciava com os ideais de liberdade. Uns diziam que jamais iriam se relacionar, pois prezavam em demasia a liberdade, outros celebravam a liberdade ao irem a um bar com os amigos pois não o deixariam de fazer por nada e por ninguém.

Eis que então, estes homens livres, por algum motivo desconhecido passavam a evidenciar o que possuíam de melhor, a chave do carro em cima da mesa, o celular que não cabia no bolso, o penteado milimetricamente ajeitado e por ai vai.

“(…) todos tiveram a sorte de terem conhecido mulheres maravilhosas e flexíveis.”

Eu pensava comigo mesma, já que estou aqui, por que não me permitir! Então me esforçava em escutar aquela pessoa, saber seus gostos, desejos, o que pensava, mas, lá pelas tantas, era tudo a mesma coisa, mais uma pessoa insegura tentando mostrar o que não era. E então a melancolia que estava a espreita começava a se instalar, mas ainda assim, eu como você bem, sabe sou positivista e me esforçava, juro, tentava pela força da vontade prestar atenção, mas então esses homens iniciavam um bombardeio sobre suas proezas sexuais, e ingenuamente acreditando serem a encarnação de Don Juan, narravam suas peripécias e conquistas com muito entusiasmo e sedução. E por se tratar de uma tendência, todos estes homens livres só tinham coisas boas a contar de si mesmos e todos eram sortudos, abençoados, iluminados, pois todos tiveram a sorte de terem conhecido mulheres maravilhosas e flexíveis.

E era exatamente neste ponto que já não mais ouvia, já não conseguia prestar atenção no que falavam, suas vozes ficavam distantes e eu, bem eu olhava ao redor à procura de algo que fosse interessante, cobiçava a comida do rapaz à mesa ao lado, sentia o perfume forte que alguém passou em excesso e então… eu pedia mais uma dose…

Mas às vezes nem a bebida era capaz de tornar a conversa agradável. Então nesses momentos eu me colocava a tentar organizar o meu dia: Quando chegar em casa preciso arrumar a cozinha, ou, segunda-feira tenho que ligar para fulano e resolver com ele sobre o contrato, ou, o que vou almoçar amanhã, acho que não tem comida em casa!

Esses são os meus pensamentos quando sou envolvida pelo tédio de uma conversa rasa!

Por que Liberdade é muito mais do que ter o livre arbítrio para escolher qualquer cor entre as disponíveis no arco-íris.

Não serei hipócrita e entoar o cântico de que a felicidade, alegria, paz estão dentro de nós, disso eu sempre soube! Mas irei entoar o cântico de que se é mais alegre quando estamos na companhia de pessoas interessantes e leves. Que paz e felicidade fazem mais sentido quando estamos na companhia de quem verdadeiramente nos ama!

Esta é mais uma carta de amor que nunca enviarei.

Por: Sonia Matos





Relaxa, dá largas à tua imaginação, identifica-te!